Sociedade do Cansaço: como sobreviver ao cansaço do fim de ano?
- Lara Meloni
- 5 de dez. de 2024
- 3 min de leitura
“A vida é muito maior do que a soma de seus momentos”
Zygmunt Bauman
Atuar como psicóloga é sobre questionar e refletir sobre a sociedade que nos rodeia e isso inclui as redes sociais.
Esses dias em venho acompanhado muitos colegas se queixando de algo que é tão presente no nosso dia a dia: o cansaço. O final de ano se aproxima e com ele parece que todo o peso do trabalho se acumula em nossas costas, gerando uma sensação de sufoco e exaustão.
Foi pensando no que poderia estar por trás disso tudo que produzi esse texto baseado em uma coluna que escrevi para a plataforma Psicologia Viva.
Um estudo feito pela Mercer mostrou que 81% dos colaboradores sentem que podem
desenvolver o Burnout. Além disso, a própria OMS (Organização Mundial da Saúde) considera que a ansiedade, o estresse e a ansiedade são os grandes males do século XXI.
Diante destas informações, nos faz necessário esmiuçar as origens do cansaço cotidiano e a
buscar uma alternativa para esta questão que não está mais restrita nas portas das empresas, mas transborda para a nossa vida pessoal e social, esburacando nossa alma com um vazio e uma falta de sentido de vida.
Com certeza, o filósofo sul-coreano Byung-Chul Han irá concordar com esse sentimento. Aliás ele criou uma teoria para definir esse período de desgaste que vivemos: “Sociedade do Cansaço”.
Somos mortos vivos que rastejam pelos dias com a angústia e a culpa de não estarmos
fazendo o suficiente. É aquela sensação de não parar pra prestar atenção no que comemos
por estar focado apenas em desempenho e na produção, ou a sensação de que não existe um propósito além do trabalho que fazemos.
Para tentar encontrar um descanso para essa “Sociedade do Cansaço”, podemos fazer
aqui esta pequena analogia: nossa mente é como uma montanha. O pico é aquilo que
almejamos alcançar, já a encosta é o caminho que percorremos para atingir nossos objetivos, e o vale é tudo aquilo que deixamos enterrado e esquecido.
Normalmente, nosso objetivo final é um pico de produtividade e excelência, e para isso somos como Sisífo. Ou seja, carregamos mais peso do que suportamos para alcançar o topo e depois de muito esforço, vemos que temos que recomeçar tudo de novo, em uma jornada sem data de término.
Enquanto carregamos essa enorme pedra, se manifestam pelo caminho as consequências de uma subida árdua e sem muito sentido para a vida: a culpa e o desgaste. Por fim, vemos que lá embaixo estão aquelas partes que deixamos escapar e que antes tanto nos motivavam, como os nossos sonhos, nossas motivações, nossa criatividade e momentos de
contemplação que hoje foram engolidos.
E é justamente aí que o Burnout aparece: queimamos todo o nosso potencial produtivo
e criativo e adoecemos por culpa e exaustão. O calor dessa chama que antes era de transformação agora é de destruição.
Esse ritmo frenético adoece, deixa os
trabalhadores depressivos, com sentimento de fracasso e de culpa por descansar ou por
não serem produtivos em um dia. Mas o que podemos fazer, se sabemos que a dimensão do trabalho tem uma importância essencial para a vida social, pessoal e econômica? Como fazer com que essa chama aqueça, mas não queime?
A saída para este problema tão imenso parece estar em uma palavra bem pequena: tempo.
Só conseguiremos resgatar a vontade de viver se pudermos ver o que nos faz viver. E para ver, precisamos de pausas, precisamos estimular a nossa capacidade de permanecer. Permanecer em nós mesmos, na nossa vida, em nossos projetos.
É necessário que façamos um resgate urgente de pausas em nossas rotinas e do cultivo de
oportunidades de contemplação por meio da valorização de momentos de introspecção,
prazer, autocuidado e lentidão. E para isso, nada melhor do que a sabedoria da filosofia oriental.

Figura 1 - Imagem representando o termo "Ma"
O termo Ma é a junção de dois kanjis que equivalem a portão/portal e sol (representado na imagem acima). O símbolo que se forma com a junção das duas palavras é justamente uma porta atravessada pelo sol. Mas o que isso significa?
UM ESPAÇO VAZIO QUE ILUMINA.
O Ma representa então o vazio que é envolvido por uma potência de luz, de consciência e desperta em nós a possibilidade para ser, sentir, contemplar e permanecer. Assim como as pausas entre as notas de uma música por mais que mudas completam e transformam a melodia, as pausas nos nossos dias transformam a nossa alma.
Por isso, se você está se sentindo sobrecarregado, cansado, com alto grau de cobranças, tente inserir esses espaços na sua agenda. Quebre a rotina e permita-se permanecer em tudo o que você faz. Com essa consciência, o trabalho fica mais leve e você se torna um sobrevivente dessa “Sociedade do Cansaço” que no fundo só quer mais tempo para viver.
Permita-se sentir.
Permita-se viver.
Afinal, ainda há tempo, para parar o tempo.
Comments